domingo, 5 de fevereiro de 2012

Exposição Apagamentos e Aparições - Museu de Arte de Montenegro - 2011

“As coisas desaparecem quando não as estamos olhando.” Maurice Merleau-Ponty

“Certamente são imagens de sonho; certamente costumam aparecer e desaparecer independentemente de nossa vontade.” Henri Bergson


A memória é feita de imagens. Lembrança e imagem são associadas pela imaginação. Uma imagem-lembrança atravessa e expande o corpo da memória, reconstituindo percepções de um objeto lembrado.

Um objeto lembrado é um objeto alguma vez visto e muitas vezes re-visto nos fluxos da memória. Mas, para além do que se vê, a razão pela qual as imagens são possíveis é um sentido outro.

As imagens que aparecem na lembrança são tentativas incontáveis de recomposição a partir de fragmentos flutuantes da memória. As imagens que desaparecem ou se apagam vão buscar outro sentido, para (quem sabe!) retornarem, num processo de permanente transfiguração.




Primeiras Aparições



domingo, 1 de agosto de 2010

Exposição Anamnese - Sala Java Bonamigo, Ijuí/RS - 2009


"A rosa é uma imagem-lembrança que a imaginação faz reconstituir-se infinitamente. É iluminada intermitentemente no âmbito das memórias. Memória e imaginação estabelecem ligações entre a imagem e as lembranças. O passado se mistura com o presente nas ilimitadas e possíveis reedições imagéticas que fluem do corpo da memória. As repetições da mesma imagem de fato não são repetições. São tentativas de composição do presente pela permanente busca da reconstituição de um objeto perdido. O passado é composto pelo presente. O presente está repleto de passado."
A exposição Anamnese apresentou vários trabalhos do projeto Ancoragens Afetivas. Os trabalhos elaborados especificamente para esta exposição foram: Anamnese II e Memorial.


Anamnese II


Estes três backlights recuperam imagens da exposição feita em Rio Grande, no Espaço IDEA, em 2006. As imagens utilizadas para os backlights são fotografias de visões das impressões sobre vidro, aplicadas nos vidros da galeria. São memória daquela exposição.


Memorial





Neste trabalho foi realizada interferência no espaço da galeria Java Bonamigo, com aplicação de adesivos de vinil transparente, com impressão de imagens digitais.
Há dois conjuntos de imagens: um com imagens da Série n-1 e outro com imagens feitas a partir de fotografias da interferência realizada em Rio Grande, como no trabalho Anamnese II.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Exposição "Entre 4" - 2008

Exposição coletiva "Entre 4" - Fundação Casa das Artes - Bento Gonçalves/RS - 2008.

Trabalho: Anamnese - 2008

“Este conjunto de trabalhos pertence ao projeto Ancoragens Afetivas, em que articulo memórias pessoais ligadas a determinado objeto – um objeto-lembrança – buscando produzir, com a luz e a forma de tratamento das imagens, uma idéia de como as coisas se situam na memória. Utilizo imagens digitais, estabelecendo uma relação entre fotografia e resquícios de objetos fotografados.”



Andrea Hofstaetter. Anamnese, 2008.
Instalação: Backlights – 50 x 50 x 20 cm e Caixa com objetos – 60 x 80 x 25 cm.
Backlights com imagens digitais manipuladas, caixa com cacos de porcelana, pratos de porcelana com impressões.




Imagem para impressão digital com fotografia de prato com impressão colorida.


Convite da exposição:


Exposição em Rio Grande

Exposição coletiva "Como que por acaso" - IDEA Espaço de Arte/FURG - Rio Grande / RS - 2006.


Andrea Hofstaetter. Série n-1, 2006
Interferência na Galeria do IDEA Espaço de Arte – FURG – Rio Grande/RS
Impressões digitais sobre vinil adesivo transparente, 65 x 65 cm.




Andrea Hofstaetter. Revelação 1, 2006
Backlight com radiografia, 43 x 35,5 x 20 cm
O backlight foi colocado na parede oposta às imagens da série n-1.

domingo, 20 de junho de 2010

Exposição Ancoragens Afetivas

Exposição Ancoragens Afetivas - FUNDARTE, Montenegro/RS, agosto de 2006.



Texto do convite, de Eduarda Duda Gonçalves:

Quantas rosas são necessárias para navegar à memória afetiva?
Há pouco tempo Andrea me mostrou o inventário de rosas que guarda em arquivos digitais, em gavetas, na casa, em sua memória. São rosas de cera, de sabonete, embalagens de perfume, de pano, de crochê. Rosas de pixel, de lojas de R$ 1.99, dos amigos, dos folhetins, dos encartes comerciais. Rosa vermelha, rosa rosa... rosa, rosa! A rosa de Magritte, Rose Sélavy de Marcel Duchamp, a rosa de Dalí, a rosa de Rembrandt, a rosa de Monet, até mesmo a rosa de Mondrian, rosa azulada, transparente, nem horizontal, tampouco vertical, redondamente orgânica, uma rosa suspensa num copo, sem âncoras.
Das rosas que possui, qual é a rosa de Andrea? Não é a rosa da roseira, nem mesmo uma rosa. Segundo a artista, é a imagem imersa em um vaso de vidro com água... Uma rosa memória, um objeto-lembrança, definido por Gaston Bachelard como uma operação imaginativa em que imagens e memória são indissociáveis.
Ela relata: “Este objeto era uma espécie de vaso, que eu via freqüentemente na minha infância. Não era meu, nem de minha própria casa. O vaso consistia numa esfera de vidro, dentro da qual se colocava uma flor e água. A boca da esfera ficava virada para baixo, fechada com uma tampa, sendo que o que se via era uma bola cheia de água com a flor imersa. A flor colocada pela dona do vaso era sempre uma rosa. Pelo menos quando eu o enxergava. Chamo este objeto de objeto perdido.”
A poética instaura a epopéia da busca. A artista se apropria de uma imagem de rosa veiculada em uma peça publicitária de loja popular. A figura é escaneada, (re)editada e inserida em backlights de tamanhos e formatos diferentes. Os objetos são animados por meio de fonte luminosa, já que a rosa em luz desencadeia a atualização fugidia do passado, buscando na experiência do presente a permanência-movimento da lembrança. Em outro backlight reproduz um raio-x de seu peito segurando um objeto de vidro que contém uma rosa, ou seja, revela o objeto fora e dentro do corpo. O peito sem pele (des)cobre o objeto agrimensado/agrimensando a lembrança.
A luz que incide sob a imagem da rosa revela que “em nenhum lugar o olhar interior ilumina de forma homogênea. Ele economiza luz, clareando apenas alguns espaços dentro de nós” (BLOCH, 2005, p.115). Alguns lugares que não queremos esquecer.
Por meio da rosa luminosa, Andrea nos convida à operação da memória fluxo-de-duração-pessoal, que em nós poderia ser outra figurabilidade ou fato, uma outra imagem-lembrança, um outro objeto perdido. A rosa no ocidente é a flor simbólica mais citada, assim como a lótus no oriente. A rosa é sangue, é roda, amor paradisíaco, é a flor preferida dos alquimistas, é rosa em nós. Contudo, mesmo que impregnada de tantas atribuições, (re)ssignifica-se nas lembranças e na obra da artitsa. Uma rosa perdida são muitas, é além, lá e aqui. E é muito mais que uma reprodução, já que é órgão no corpo da artista, é manancial que acora o afeto, uma vez que uma rosa é apenas uma rosa.

(BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005)

Eduarda Duda Gonçalves
Artista plástica, Mestre e Doutoranda em Artes Visuais/UFRGS.


Objeto-lembrança


Andrea Hofstaetter, Objeto Perdido, Projeto Ancoragens Afetivas, 2006.
Caixa de acrílico iluminada, com objeto.

Dimensões: caixa de acrílico branco de 50 x 50 x 40 cm; suporte de madeira de 70 x 70 x 70 cm; caixa de acrílico transparente de 70 x 70 x 50 cm.

Gaston Bachelard trabalha com o conceito de objeto-lembrança, ou imagem-lembrança, quando discorre sobre como opera a imaginação. Como outros autores, ele trata da memória como feita de imagens. É a imaginação que opera a ligação da lembrança com a imagem. “Memória e imaginação não se deixam dissociar. Ambas trabalham para seu aprofundamento mútuo. Ambas constituem, na ordem dos valores, uma união da lembrança com a imagem” (BACHELARD, 1993, P.25).

Memória

Trabalho a partir de memórias pessoais ligadas a determinado objeto – o objeto perdido, tentando produzir, com a luz e as imagens, a idéia de como as coisas se situam na memória e no inconsciente.

A luz – ou luminosidade – é constituinte do trabalho e fator determinante para a questão de como vemos as imagens da memória. Conforme Ernst Bloch, “em nenhum lugar o olhar interior ilumina de forma homogênea. Ele economiza luz, clareando apenas alguns espaços dentro de nós” (2005, p.115). De acordo com Bloch, as imagens que se formam a partir de nossa memória, no âmbito do interior, são como que pontos iluminados, que enxergamos alternadamente. O que está iluminado no momento é visto. Há partes mais e menos iluminadas. Há imagens não iluminadas, no entanto, presentes e que, em algum momento, podem vir a estar iluminadas, enquanto que outras, no momento iluminadas, podem passar para o espaço não iluminado. Ele chama este lugar não de inconsciente, mas de ainda-não-consciente.



Andrea Hofstaetter, Aura, Projeto Ancoragens Afetivas, 2006.
Imagem digital e néon.

Dimensões: 63 cm de diâmetro.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Objeto Perdido

Há um objeto perdido. Este objeto era uma espécie de vaso, que eu via freqüentemente na minha infância. Não era meu, nem da minha própria casa. O vaso consistia numa esfera de vidro, dentro da qual se colocava uma flor e água. A boca da esfera ficava virada para baixo, fechada com uma tampa, sendo que o que se via era uma “bola” cheia de água com a flor imersa. A flor colocada no vaso era sempre uma rosa.

A rosa dentro da água, na esfera de vidro - que não existe mais, pois foi quebrada - é imagem deflagradora de uma proposta poética pessoal. O projeto Ancoragens Afetivas pretende dar conta de uma demanda de produção de imagens a partir deste objeto da memória – um objeto-lembrança.



Imagens 1, 2, 3, 4 e 5.
Andrea Hofstaetter, n-1 ...22...; n-1 ...23...; n-1 ...24...; n-1 ...25...; n-1 ...26.., Projeto Ancoragens Afetivas, Série n-1, 2006.
Imagens digitais para impressões digitais em vinil adesivo, 50 x 50 cm, para backlights de 50 x 50 x 20 cm.
Fonte: Arquivo pessoal.